Pacientes portadores do esôfago de Barrett, que é uma complicação do refluxo gastroesofágico, possuem um novo tratamento no combate à doença. A Unidade de Endoscopia do Hospital Moinhos de Vento realizou, pela primeira vez em Porto Alegre, uma ablação endoscópica por radiofrequência. O paciente, um homem de 50 anos, possuía a enfermidade e displasia de alto grau.
Com dispositivos colocados por meio de um endoscópio e com visualização direta, é possível cauterizar de forma controlada a mucosa doente”.
Mundialmente difundida e já realizada no Brasil, a nova técnica consiste na ablação por radiofrequência de toda a extensão do esôfago comprometido. “Com dispositivos colocados por meio de um endoscópio e com visualização direta, é possível cauterizar de forma controlada a mucosa doente. Um gerador específico entrega de forma precisa e automática a quantidade de energia exata para alcançar a erradicação da parte enferma e, ao mesmo tempo, minimizar o risco de complicações”, explica o chefe do Serviço de Gastroenterologia e Cirurgia do Aparelho Digestivo, Fernando Wolff.
O procedimento é destinado a pacientes com esôfago de Barrett que apresentaram alterações conhecidas como displasias de alto grau — ou, até mesmo, câncer precoce que já foi tratado. Após a resolução dessas alterações também por endoscopia, muitas vezes, há um risco aumentado de novas transformações em câncer. Por isso, é importante tratar a mucosa afetada. “Antes da radiofrequência, o que podíamos fazer era acompanhar esses pacientes com exames endoscópicos seriados para a detecção precoce do adenocarcinoma esofágico. Esse tratamento, nesse momento, geralmente é cirúrgico”, alerta a gastroenterologista Luiza Haendchen Bento. Ela acrescenta que o grande diferencial é que a ablação de todo o epitélio atingido impede que o problema evolua para um tumor.
Menos invasiva e com recuperação rápida
A doença do refluxo é muito prevalente: estima-se que 12% da população seja acometida por esse mal”.
A opção é menos invasiva e com menor incidência de eventos adversos. Pode ser feita ambulatorialmente ou com poucos dias de internação para manejo inicial da dor e da dificuldade para engolir — problema que pode ocorrer em alguns casos. O paciente, que realizou o procedimento no final de julho, conforme Luiza, passa bem e agora segue um acompanhamento médico rigoroso. “A doença do refluxo é muito prevalente: estima-se que 12% da população seja acometida por esse mal. Cerca de 10% dos pacientes que procuram o médico por doença do refluxo apresentam esôfago de Barrett. Mas não se sabe ao certo a incidência no Brasil e no RS”, conta Luiza.
A tecnologia
Registrada na Anvisa (Reg. nº 10349000491, 10349000492 ) e fabricada pela Medtronic (empresa de tecnologia médica com sede nos Estados Unidos), a inovação possui capacidade de fornecer uma quantidade controlada de terapia ablativa, reduzindo significativamente o risco de complicações. O gerador e o cateter Barrx™ RF são projetados para trabalharem em conjunto para alcançar uma profundidade de ablação entre 500μm (mícron) e 1.000 μm, aproximadamente. Engloba dois procedimentos em um, fornecendo flexibilidade para escolher um cateter para tratamentos de áreas maiores ou os cateteres focais para áreas menores.
Esôfago de Barrett
A patologia é uma alteração da mucosa (revestimento interno) da porção do esôfago próxima da junção com o estômago, ocorrendo como uma complicação da Doença do Refluxo Gastroesofágico. Na maioria dos casos, a evolução é benigna, exigindo apenas acompanhamento endoscópico periódico. “Entretanto, em alguns pacientes, surgem alterações pré-malignas (displasia de alto grau) ou mesmo malignas (câncer de esôfago) dentro dessa mucosa alterada. Quando descobertas precocemente, essas lesões são tratadas por técnicas endoscópicas, e, após essa etapa, é necessário que todo esôfago de Barrett seja adequadamente tratado a fim de diminuir o risco de novas lesões de maior risco”, conclui Fernando Wolff.