Lançado recentemente, o Relatório Setorial da Indústria de Calçados, da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), aponta para dificuldades da atividade que há mais de um século tem importante papel na economia nacional.
O documento apresenta, por meio de pesquisas oficiais cruzadas com um minucioso levantamento de produção realizado com associados da entidade – que respondem por mais de 70% do total produzido pelo segmento –, números de produção, exportação, importação, emprego, uso da capacidade instalada, entre outros.
Um dos dados que mais chama a atenção é a discrepância entre o crescimento da produção mundial e os números da produção nacional de calçados. No mundo, conforme dados levantados, foram produzidos 21,4 bilhões de pares, quase 4% mais do que em 2016. Analistas ressaltam que o crescimento foi, basicamente, impulsionando pelo consumo interno nos países.
Em 2017, foram consumidos 19,6 bilhões de pares, 3% mais do que no ano anterior. Já no Brasil, que produziu 908,9 milhões de pares no período, houve um incremento de apenas 1%, na produção, ao passo que o consumo chegou a 805,5 milhões de pares, somente 1,2% maior do que em 2016, quando já havia despencado mais de 2%.
Segundo o presidente-executivo da Abicalçados, Heitor Klein, a indústria calçadista brasileira, assim como a de manufaturados em geral, está com dificuldades devido aos problemas estruturais já, exaustivamente, citados e que formam o caldo do Custo Brasil, obstáculos que somados à retração na demanda doméstica vem causando grandes danos ao segmento. “O que salvou a indústria de um resultado pior em 2017 foram as exportações, que aumentaram 1,2% em volume e 9,3% em receita gerada (127,1 milhões de pares por US$ 1,09 bilhão)”, avalia.
Por outro lado, o executivo ressalta que a discrepância entre o crescimento do volume e do valor gerado pelos embarques é preocupante, pois denota o aumento de preços no exterior, explicado pela valorização da moeda brasileira sobre o dólar.
O câmbio, muitas vezes, é um compensador das nossas fraquezas estruturais. Ele compensa o problema que é se produzir e ser competitivo com uma das maiores cargas tributárias do planeta, além de todos os problemas estruturais que enfrentamos no dia a dia, como uma logística precária, os custos com mão de obra, entre outros”, comenta Klein.
Segundo ele, no ano passado, os principais destinos do calçado brasileiro foram Estados Unidos, Argentina, Paraguai e Bolívia. “Com o preço mais elevado, em função da defasagem cambial, estamos perdendo espaço nos Estados Unidos, sendo que no primeiro trimestre desde ano – dado que não consta no relatório -, os norte-americanos já foram ultrapassados pela Argentina”.