Iniciativa gaúcha é melhor projeto do mundo em educação estatística

Por Gabrielle Pacheco

 

A metodologia Letramento Multimídia Estatístico (Leme) foi reconhecida como o melhor projeto colaborativo em Letramento Estatístico do Mundo pela International Statistical Literacy Project entidade ligada a International Association For Statistical Education, instituto internacional de estatística, sediado na Holanda. A premiação equivale a um Prêmio Nobel da área de Estatística e foi realizada na Malásia, em agosto.

Em julho deste ano o Leme também foi certificado como tecnologia social pelo Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. A instituição identifica e premia metodologias há 18 anos, além de disponibilizar um banco de dados on-line onde reúne as iniciativas certificadas que podem ser reaplicadas em outras localidades do país.

Ideia do projeto

A tecnologia social foi desenvolvida em 2012 sob coordenação de Mauren Porciúncula, professora da Universidade Federal do Rio Grande – FURG, com o objetivo de alfabetizar em estatística crianças e jovens de escolas públicas. Em uma sociedade onde os dados são cada vez mais importantes, se torna necessário ensinar os estudantes a interpretarem as informações, construírem gráficos, tabelas e contribuir para uma mudança de paradigma onde ainda se pensa que a matemática é algo complexo e de difícil compreensão.

A professora Mauren criou o projeto com foco na alfabetização estatística a partir de dados veiculados na imprensa. “O letramento estatístico, contribui para desenvolver habilidades de interpretação de dados. Por exemplo, uma notícia descreve a média salarial de uma empresa onde duas pessoas recebem o salário de R$ 1 mil e outra pessoa R$ 7 mil. A média salarial neste caso é de R$ 3 mil, porém em valor absoluto duas pessoas ganham apenas R$ 1 mil, ou seja, média e valor absoluto são dois conceitos estatísticos diferentes. E é esta diferenciação que ensinamos no Leme”, conta.

Metodologia Criativa

O método consiste em montar um projeto de aprendizagem onde as crianças assumem o papel de pesquisadores, escolhem a pesquisa livremente, a sistematização para a coleta de dados e a forma de divulgação. Durante todo este processo de formação, eles aprendem conceitos estatísticos.

A cidade de Rio Grande está localizada no litoral do Rio Grande do Sul. Por ter este contato com o mar, a iniciativa foi incorporando palavras relacionadas ao universo náutico. O termo Leme pode ser vinculado à embarcação, podendo ancorar (ser reaplicada) em qualquer porto (em todo o Brasil). O porto é o local onde o Leme é realizado permanentemente. O pier pode ser o espaço temporário onde o Leme é ancorado, ou seja, uma escola ou um evento.

Já a tripulação são os jovens e crianças (participantes) que embarcam. Ao iniciar a viagem, a pesquisa começa a ser desenvolvida e todos os dados são registrados no diário de bordo (coleta de dados) como as tempestades (dificuldades); as lindas paisagens (aprendizagens); as novas rotas percorridas onde se aplica estratégias pedagógicas inovadoras, criadas pelos comandantes (professores) além dos projetos de aprendizagem. São autores desses diários de bordo, a tripulação e os comandantes que registram o desenvolvimento do Leme, em diferentes contextos, o que permite a qualificação permanente da Tecnologia Social.

Transformação social e profissional

A metodologia Leme está estimulando novos estudantes para a formação de estatísticos, além de contribuir para a autoestima. Mauren conta, que ao visitar as escolas, os estudantes recebem um crachá com identificações do projeto e o nome do pesquisador.

Neste crachá, o nome do aluno deve ser escrito no espaço destinado ao pesquisador porque naquele momento ele vai desenvolver uma pesquisa estatística. “Em uma escola, onde aplicamos o Leme, um dos estudantes disse – eu não tenho nome de pesquisador, como vou colocar meu nome aqui? Nós respondemos: tem sim. Ele ficou muito motivado. Deu para ver o brilho nos olhos. Talvez no futuro ele possa se tornar um pesquisador ou estatístico, porque o Leme demonstrou para ele que é possível”, afirma a professora.

De acordo com o Centro Nacional de Estatísticas da Educação, o número de graduados em estatística no Brasil, dobrou no período de 2009 a 2018, saindo de 8 mil para 16 mil graduados. Porém, uma pesquisa da McKinsey Global Institute, prevê que só os Estados Unidos precisarão de até 190 mil novos estatísticos com habilidades analíticas para gerenciar o grande volume de dados gerados a todo momento (Big Data) e executar análises de dados e operações de inteligência de negócios nos setores público e privado.

“O reconhecimento internacional do Leme nos deixou muito feliz e a certificação como tecnologia social pela Fundação BB nos motiva a acreditar que agora ele pode ser reaplicado em todo o país para formamos uma geração de letrados estáticos para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil”, comemora Mauren.

Foto: Reprodução/Fernando Halal/Secom | Fonte: Assessoria
Publicidade

Você também pode gostar