40 anos do Programa Genético Uvas do Brasil

Por Gabrielle Pacheco

Conquistar o difícil mercado inglês com um novo padrão de uva de mesa, produzir suco de uva de alta qualidade em regiões tropicais, ampliar o período de colheita de uvas para a elaboração de suco em regiões de clima temperado e elaborar um vinho de mesa varietal com valor agregado. Essas são realidades que mostram algumas mudanças ocorridas nos últimos anos e que foram protagonizados pela ‘BRS Vitória’, ‘BRS Magna’, ‘BRS Carmem’ e ‘BRS Lorena’, respectivamente. Todas elas são cultivares desenvolvidas especialmente para as condições brasileiras pelo Programa de Melhoramento Genético – Uvas do Brasil, da Embrapa Uva e Vinho.

Implantado em 1977, o Programa Uvas do Brasil, além de desenvolver novas cultivares para atender demandas de viticultores e vinícolas das diferentes regiões vitícolas brasileiras também tem utilizado o Banco Ativo de Germoplasma da Uva (BAG-Uva) para selecionar e disponibilizar clones, como a ‘Isabel Precoce’ e Concord Clone 30, e lançar, após validação, outras cultivares, como a ‘Tardia de Caxias’. O Programa já lançou dezenove cultivares, para atendimento a três segmentos da cadeia produtiva vitivinícola: uvas de mesa (para consumo in natura) e para processamento ( suco e vinho), todas com características competitivas  diferenciadas, tais como alta produtividade, alta concentração de açúcar e tolerância ao míldio, principal doença da videira.

Nessa trajetória, identificar as demandas do setor produtivo e criar uma nova cultivar, desde a escolha dos progenitores para cruzamento até a seleção de quais serão validadas em áreas de produtores parceiros, são algumas das rotinas dos pesquisadores melhoristas do Programa. Idealizado e coordenado pelo pesquisador Umberto Almeida Camargo, até a sua aposentadoria em 2009, o programa teve continuidade sob a coordenação dos pesquisadores Patricia Ritschel e João Dimas Garcia Maia, que já integravam a equipe.

Esses 40 anos também são um marco em termos de transferência de material propagativo para os viticultores. Hoje, se o viticultor quer ter acesso a qualquer variedade, desde as mais clássicas como a Tardia de Caxias e Dona Zilá, até os novos lançamentos, como a Vitória, Núbia, Magna ou Isis elas podem ser adquiridas através de viveiristas licenciados pela Embrapa em todas as regiões do Brasil.

Ao mesmo tempo em que são muitos os motivos para comemorar os avanços obtidos com o Programa Uvas do Brasil para a vitivinicultura brasileira, várias pesquisas continuam sendo desenvolvidas. Os coordenadores antecipam que já trabalham no desenvolvimento de novas cultivares de uvas sem sementes, principalmente brancas, com vantagens comparativas em relação às tradicionais (‘Thompson Seedless’, ‘Crimson Seedless’ e ‘Sugraone’), visando ao mercado de exportação. Nesta etapa são buscadas característica visando, principalmente, menos exigência em mão de obra e menor necessidade de emprego de produtos para melhoria do cacho e da baga. Com relação as uvas para elaboração de suco, estão sendo selecionadas variedades adequadas à colheita mecânica, mantendo todas as demais características existentes nos lançamentos anteriores.

No segmento de uvas híbridas para elaboração de vinhos, principalmente tintos, estão sendo avaliadas cultivares que resultem em vinhos com perfil enológico do tipo europeu e com maior conteúdo de matéria corante. Espera-se que todas estas cultivares apresentem ampla adaptação climática e com maior tolerância a doenças. Além de cultivares híbridas, também estão sendo realizados cruzamentos entre Vitis vinifera, visando o desenvolvimento de materiais que resultem em vinhos tintos com coloração intensa e cultivares de uvas brancas menos suscetíveis à podridão de cachos.

IMPORTÂNCIA ECONÔMICA

 A atividade vitivinícola demanda mão de obra e tem boa rentabilidade por área, por ser uma cultura intensiva e perene. É, tipicamente uma atividade desenvolvida por agricultores de base familiar,  mas também por grandes empreendimentos com foco, tanto na produção de uvas finas para processamento quanto na produção de uvas de mesa para exportação e mercado interno. Nesse mercado é onde observa-se a maior diferença entre as cultivares lançadas pela Embrapa e as disponíveis no mercado, isto porque trata-se de regiões tropicais, sem tradição e nem referência na atividade vitícola. Neste contexto, o Programa Uvas do Brasil desenvolveu projetos customizados no sentido de disponibilizar alternativas de variedades adaptadas as condições tropicais e globalmente competitivas. Entretanto, são as regiões vitivinícolas tradicionais, do sul do Brasil, tipicamente produtoras de uvas para processamento, que têm à disposição maior número de alternativas, com cultivares para diferentes condições de relevo e clima.

Foto: Reprodução | Fonte: Assessoria
Publicidade

Você também pode gostar